Bem - Vindo

Este Blog, tem como objetivo falar sobre diversos temas, entre eles educação, aborto e o que é ser jovem. E como anda a juventude de hoje, e que existem jovens que "não querem a sua vida igual a tudo que se vê".

terça-feira, 23 de março de 2010

Depoimento - de uma jovem que cometeu aborto.



"Eu fiz um aborto" - NOVA

Aborto

SE EU PUDESSE VOLTARIA ATRÁS

“Engravidei pela primeira vez aos 15 anos. Namorava fazia pouco mais de 12 meses com o Douglas, cinco anos mais velho do que eu. Estava na fase de descobrir o sexo, conhecer meu próprio corpo, explorar a sexualidade. Nós só usávamos camisinha uma vez ou outra, e olhe lá. A maior parte das transas era na base da tabelinha ou de tirar antes de terminar. Tudo ia bem até que a minha menstruação atrasou. Fiz um teste comprado em farmácia. Deu negativo e sosseguei. Só que nos dias seguintes o fluxo não apareceu e resolvi procurar uma médica. A ginecologista que me atendeu no pronto-socorro disse que provavelmente seria apenas um problema hormonal, ou mesmo nervoso, por causa da situação. Ela me pediu alguns exames e marcou um retorno. Quando voltei lá com os resultados, ela soltou a bomba: eu estava mesmo grávida.

Voltei para casa a pé, desnorteada. Queria que um caminhão me atropelasse ou que um buraco se abrisse para me engolir. Dois anos antes eu ainda brincava de bonecas, era uma criança. Não tinha idéia do que seria lidar com um bebê de verdade, tampouco me responsabilizar por alguém. Contei ao meu namorado e à mãe dele. Os dois ficaram felizes e até tentaram me convencer a levar a gestação adiante. Já com a minha família a história seria bem diferente. Assim, só a minha irmã, com quem eu morava, ficou sabendo da verdade. Meus pais, conservadores, teriam me matado.

Em pânico, decidi tomar uma atitude drástica. Soube por meio de um amigo do Douglas que chá de maconha era abortivo e quis arriscar. Nos trancamos na casa dele numa tarde e fizemos a bebida. Nunca passei tão mal em toda a minha vida. Tive alucinações, suei muito e senti dores horrendas no útero. Apesar de tudo isso, o tal preparado não fez efeito nenhum. Continuava gravidíssima. A partir daí, as coisas só pioraram. Eu estava com quase um mês e já não sabia mais se queria abortar, ao mesmo tempo morria de medo só de pensar que o bebê nasceria defeituoso. Comecei a sentir os enjôos e a gestação passou a ser algo real, concreto.

Depois de dias e mais dias me remoendo de culpa por ter tomado aquele veneno, resolvi marcar uma consulta com o médico indicado por uma amiga. O lugar parecia uma clínica qualquer, com secretária, revistas e outras pacientes. O médico era atencioso. Chamou o Douglas na sala e perguntou há quanto tempo nós estávamos juntos. Também questionou se tínhamos certeza da decisão. Ele explicou como seria o procedimento, falou da anestesia, do sangramento nos dias posteriores e das cólicas. Eu não conseguia perguntar nem responder nada, só chorava. Para me acalmar, ele dizia que eu estava fazendo a coisa certa, pois tinha o direito de escolher o melhor para mim. Durante o exame, ele afirmou que eu estava de dois meses. Fechamos o valor em 1 500 reais, e ele pediu que eu esperasse na recepção até que a clínica esvaziasse. Foram as duas horas mais longas da minha vida. Quando finalmente me chamaram, vesti aquela roupa de hospital tremendo e chorando tanto que parecia seguir para a cadeira elétrica. Após receber anestesia, apaguei. Só me lembro de ouvir vozes e experimentar a sensação de cair num túnel. Acordei assustada, com frio e sonolenta. Passado algum tempo, o sangramento e as cólicas começaram.

Pior do que lidar com a dor física era encarar o sentimento de culpa. Fiquei tão mal que perdi o ano no colégio. As semanas seguintes foram dificílimas. Sonhava todas as noites com bebês e às vezes acordava com a sensação de que uma criança estava ao meu lado, na cama[...]

Com tudo isso, Douglas e eu nos afastamos um pouco e comecei a sair com outro cara. Seis meses depois, engravidei novamente. Sabia que o nenê era do meu namorado, pois com o ficante eu nunca transava. Dessa vez, não hesitei em levar a gravidez adiante. Foi quando um pensamento começou a tirar meu sono. E se meu filho nascesse com algum problema por causa daquele aborto? Mas a gravidez transcorreu sem maiores problemas. Embora minha família tenha ficado em choque, tive apoio dos parentes do Douglas. Hoje, minha menina tem 10 anos e é a razão da minha vida. Por causa dela me esforcei, ingressei na faculdade, consegui emprego e, só de olhar para seu rosto lindo, já começo a sorrir.”

Marcela*

* Os nomes foram trocados para preservar a identidade das entrevistadas.


Fonte, revista Abril

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